Pesquisa americana descobriu que a ação de um gene pode
desativar a cópia extra que há no cromossomo 21 de pessoas com a
condição!
Síndrome de Down: Nova pesquisa
feita em laboratório identifica uma forma de 'silenciar' o defeito genético que
causa a condição (Thinkstock)
Pela primeira vez, cientistas conseguiram identificar uma
maneira de neutralizar o defeito genético responsável pela Síndrome de Down. Em
um estudo feito com células de cultura, pesquisadores da Universidade de
Massachusetts, Estados Unidos, “desligaram” o cromossomo extra, presente nas
células de pessoas com o distúrbio. Assim, eles foram capazes de corrigir
padrões anormais de crescimento celular, característicos da Síndrome de Down. A
descoberta abre portas para o desenvolvimento de novos mecanismos que poderão
ajudar no tratamento do distúrbio. Seu uso clínico, no entanto, ainda está longe
de ser colocado em prática — o estudo, publicado na revista Nature,
precisa ser replicado em laboratório e estendido a testes em humanos antes de
poder ser liberado para uso.
Os cromossomos são estruturas com longas sequências de DNA,
que carregam vários genes. O ser humano possui 23 pares de cromossomos,
totalizando 46 em cada célula — metade é herdada do pai e a outra metade, da
mãe. Desses pares, 22 são iguais entre os sexos, e o 23º é o responsável por
determinar o sexo da pessoa: cromossomos XX para as mulheres, XY para os homens.
Pessoas com Síndrome de Down, no entanto, nascem com três cópias do cromossomo
21. Essa trissomia desencadeia deficiência cognitiva, disfunção do sistema
endócrino, entre outros problemas.
Correção — O novo
estudo se inspirou na ação de um gene conhecido como XIST. Enquanto as mulheres
possuem dois cromossomos X, os homens têm somente um. Para que haja equilíbrio
entre os sexos em relação à expressão dos genes presentes no cromossomo X, o
gene XIST desativa um dos cromossomos X das mulheres. A ideia do grupo foi
utilizar a ação desse gene para desativar também o terceiro cromossomo 21 nas
células de pessoas com Síndrome de Down — mesmo esse cromossomo não sendo o
X.
Para conseguir isso, injetou-se o gene XIST dentro de um dos
três cromossomos 21 presentes nas células-tronco dos próprios pacientes. O
trabalho mostrou que o gene XIST “silenciou” os genes presentes no cromossomo
dentro do qual foi inserido, e acabou por corrigir anomalias no crescimento
celular características da desordem.
Pesquisas feitas até agora sobre a Síndrome de Down não
haviam conseguido chegar perto de corrigir, nem mesmo em células in
vitro, a trissomia no cromossomo 21. “Nossa esperança é que, para
indivíduos que vivem com Síndrome de Down, esses achados iniciais abram novas
portas para estudar a desordem e tragam para as pesquisas o conceito de ‘terapia
cromossômica’”, diz Jeanne Lawrence, professora da Faculdade de Medicina da
Universidade de Massachusetts e coordenadora do estudo. “Agora temos uma
ferramenta poderosa para identificar e estudar patologias celulares e mecanismos
que impactam diretamente a expressão do cromossomo 21.”
Fonte. Revista Veja